© Elton Cardoso |
Com o boom que foi o lançamento do livro “A culpa é das estrelas” (resenha
aqui), do americano John Green e a adaptação de seus livros para as telas
de cinema, praticamente todo mundo já deve ter ouvido falar desse incrível
autor.
Mas a fama mundial de John Green
o fez entrar em uma espécie de bloqueio criativo que durou anos, fazendo com
que ele chegasse a anunciar que talvez não escrevesse mais livros depois de
ACEDE, o que me atingiu como um verdadeiro baque, pois Green é um dos meus
autores favoritos EVER.
Porém, no início de 2017, ele anunciou que finalmente curou o bloqueio criativo e que iria lançar
ainda neste mesmo ano, seu novo livro e, eis que, depois de cinco anos, ele
lançou “Turtles all the way down”, lançado simultaneamente aqui no Brasil com o
título de “Tartarugas até lá embaixo”.
Rapidamente, comprei o livro em
pré-venda – como é um dos meus objetivos ler, sempre que possível, em inglês
para manter a fluência na língua, optei pela versão original em e-book –, e comecei a ler nos intervalos
de um conturbado final de período da faculdade. Logo no primeiro capítulo foi
possível reconhecer a gostosa escrita do John Green.
TATWD tem como protagonista a
Aza Holmes, uma atípica adolescente (como todos os protagonistas do John Green)
que ainda está no Ensino Médio e, junto com sua melhor amiga, Daisy (famosa na interwebs por escrever fanfics de Star Wars), decidem
investigar o caso de um sumiço de um empresário bastante rico de sua cidade em
troca de uma recompensa em dinheiro.
Como de praxe, o autor, em seus
livros, sempre procura trazer luz à problemas que existem, mas que não são
amplamente discutidos, assim como ter nerds como seus protagonistas e, através
deles, desenvolver sua crítica.
Em livros anteriores, já foi
abordado questões sobre câncer, bullying, sexualidade, além dos mais
variados problemas que pessoas consideradas nerds enfrentam por terem uma
personalidade que não se encaixa nos padrões de nossa sociedade. Isso é o que
eu mais adoro nos livros do Jão Verde: ele mostra que os underdogs são tão legais quanto os populares, por exemplo.
Em “Turtles all the way down”,
através da Aza, será abordado questões acerca da saúde mental e Transtornos
Obsessivos Compulsivos (TOC), que são enfrentados pela protagonista que tem
medo compulsivo de contrair uma infecção muito rara que poderá matá-la.
Graças ao TOC, a Aza acabou
desenvolvendo outras doenças, como a crise de pânico e crise de ansiedade, e
essas doenças mentais são brilhantemente retratadas durante todo o livro, assim
como as metáforas que o autor utiliza para representar como uma pessoa que está
em uma crise de ansiedade se sente (me senti bastante representado nesse momento, e Green soube representar muito bem essas crises de uma forma muito legal).
Admiro muito autores que sabem e
utilizam a metáfora – minha figura de linguagem preferida –, pois, na minha
opinião, é possível dizer, através da metáfora, de uma forma bem simples, algo supercomplexo
e se encaixar na visão de mundo de qualquer pessoa, sem diminuir toda a
complexidade e importância deste assunto.
John Green optou por trabalhar a
saúde mental em seu livro pois, ele tem TOC e sofre de ansiedade, assim como
sua personagem e, ao ler vários livros sobre o assunto, ele nunca encontrou um
que de fato descrevesse como ele se sentia, então, seguindo a máxima “se tá achando ruim, faça você mesmo”, ele
foi lá e fez, e fez de uma forma incrível. Já deu para perceber o quanto eu
adorei esse livro?
Enfim, paralelo a isso, Aza e
Daisy decidem investigar o caso do desaparecimento que, por coincidência, é o
pai de um antigo amigo de infância da Aza, o Davis, por quem tinha um crush
antigamente. Com a ajuda de alguns amigos, a história vai sendo narrada de uma
forma bem fluída.
O autor tem a habilidade de
criar personagem que são bastante cativantes, a Daisy tem uma personalidade
única, é bastante engraçada e desbocada, e sua história é bastante
interessante. Já o Davis consegue ser um garoto fofo, inteligente, mas também
frágil, gostei da forma como Green demonstra essa
fragilidade em uma personagem masculina, mesmo que adolescente – que não é tão
comum assim – de forma totalmente humana que nos faz lembrar que os homens não
estão imunes a sentimentos que são inerentes à raça humana, por mais que a
sociedade, até hoje, diga-nos o contrário.
Desta forma, John Green nos faz
praticar a empatia. Não tem como não sentir a dor de suas personagens, não se
identificar com eles e torcer por eles.
Turtles all the way down é um livro um pouco denso por abordar
problemas sérios como a saúde mental de uma forma bem direta, mas que é
intercalado com ótimas cenas de humor, além de ser possível aprender, através
dos conhecimentos e gostos peculiares de suas personagens, sobre temas
extremamente aleatórios – mais uma característica marcante do autor que está
presente em seus livros.
Assim, recomendo este livro para
todos aqueles que tem interesse em conhecer mais e ter uma noção, mesmo que
superficial, sobre como é que uma pessoa que tem TOC, crise de pânico e
ansiedade se sente, uma vez que esse tema é bastante ignorado e banalizado em
nossa sociedade.
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